Testemunho da Tacielle

Testemunho Da Tacielle
A beleza do sonhar

O testemunho da Tacielle, que foi voluntária da AIP em Outubro 2023 na Namaacha, no Colégio Maria Auxiliadora.

As aspirações que possuímos nos impulsionam a traçar objetivos, trilhar caminhos e até desconstruir nossos próprios sonhos para ajustarmos nossas rotas rumo às realizações pessoais. Essa sequência de processos que nos permite fazer a
experiência de construir o próprio ser mediada pela interação com os outros seres vivos pode ser resumida pela palavra vida.

O voluntariado da AIP foi um desses processos, imprimiu marcas na minha história e fez com que novas rotas fossem traçadas e alcançadas por mim. Sou brasileira, casada e mãe de três crianças pequenas. No Brasil, infelizmente, uma viagem internacional é ainda artigo de luxo destinado a uma pequena parcela da população.
E na minha vida, isso também era considerado um sonho que só se realizaria após os filhos já crescidos. Conheci a AIP por meio das redes sociais e, ao acompanhar a página, surgiu o convite para o voluntariado de curta duração. Recordo-me que o convite fez o meu coração aquecer, e acreditei que aquilo era um convite para mim.
Rapidamente, realizei a inscrição sem nem comentar com meu esposo.

Os dias foram passando, e quando já nem lembrava mais, recebi o e-mail para realizar uma entrevista. Após a entrevista, já havia combinado a data provável do meu voluntariado e só faltava organizar uns pequenos detalhes: contar para a minha família sobre a minha ida a Moçambique e conseguir o valor necessário para a compra das passagens aéreas e visto! A vida continuou acontecendo, as coisas foram se ajeitando, e já estava tudo devidamente organizado para a minha chegada em Moçambique. Não conseguia acreditar que, apesar de tantas dificuldades, eu realmente conseguiria ir realizar esse projeto de vida impresso no meu coração. 

Em 15 de outubro de 2023, pousei em Maputo. Com o coração cheio de medos, mas aberto a vivenciar ao máximo a experiência. Minha primeira grande dificuldade foi a língua, apesar dos moçambicanos falarem português, é bem diferente do português falado no Brasil. A outra grande dificuldade foi compreender o jeito de pensar e de se fazer as coisas em Moçambique. Contudo, todas essas dificuldades foram vencidas com a convivência, abertura de coração e mente.

As meninas são intensas, amorosas e cheias de inquietudes próprias da idade.
Sempre colocam largos sorrisos em seus lindos rostinhos, mesmo que a vida não tenha tanta gentileza com elas. As Irmãs estão sempre a trabalhar em prol da melhoria de vida das internas em todos os aspectos de suas vidas. Cada religiosa, assim como nós, tem o seu jeitinho de fazer as coisas e são, na maior parte do ano, a figura materna que essas meninas possuem.

Por onde passei, nunca faltou: abraços quentinhos, risadas, trabalho, atenção, curiosidade, estudo. É no campo dos estudos que boa parte do voluntariado é exercido. Muito mais do que o auxílio nos estudos das disciplinas, na realização das tarefas para casa, na confecção dos trabalhos a serem entregues. O voluntário está em constante contato com as internas e consegue perceber a ausência ou a presença das aspirações para suas vidas. É, em dados momentos, semeador de sonhos, norteador de novas perspectivas e até mesmo inspiração. Quantos voluntários pude conhecer, em sua maioria por uma pintura na parede, um livro deixado na sala de estudos, uma dança ensinada, uma comida preparada, em uma situação vivida e marcada na lembrança daquelas meninas.

Nesse mês que vivi em Moçambique, pude experienciar a força do ser humano de bom coração, a beleza do povo moçambicano, o brilho do nascer de um sonho no coração de alguém. Hei de voltar a Moçambique, não sei se para aquelas mesmas meninas. Apenas sei que sempre existirão pessoas para que eu ensine a sonhar e que sonhem junto comigo!
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