Testemunho Dinis Costa

TESTEMUNHO DO DINIS COSTA
Falar da minha experiência em Inharrime é algo tão fácil e tão difícil ao mesmo tempo, porque se há coisas que se sentem e não se explicam esta é sem dúvida uma delas... Começo por dizer o que disse a todas as meninas antes de regressar para Portugal: “Antes de algumas de vocês terem sequer nascido o mano Dinis já sonhava em conhecer-vos”. Parece não fazer muito sentido uma vez que algumas delas até se riram, mas é uma grande verdade. Tive a benção e a graça de poder ver crescer este projecto uma vez ter conhecido a Irmã Lucília numa visita a Portugal em 2005, em que precisava muito da nossa ajuda para erguer o centro. Escusado será dizer que desde então que sonhava em conhecer este pequeno oásis ao qual hoje os voluntários chamamos de “castelo de Inharrime”. Recordo-me do dia em que cheguei ao centro e todos os voluntários repararam como estava feliz. Agora que penso sobre isso lembro-me perfeitamente que não conseguia tirar um sorrisinho parvo da minha cara como um adolescente apaixonado. Na realidade aquele estava a ser um sonho completamente concretizado depois de tantos anos a ler cartas, ver fotografias, postais, etc...

Uma vez ter ficado no centro 2 meses senti muito a necessidade de me envolver em vários projectos para além do normal apoio escolar às meninas internas. Deste modo, adorava quando ia conduzir a carrinha do pão permitindo-me ter um contacto directo com a população de Inharrime, gostava imenso de fazer o acompanhamento de bebés recém-nascidos através do fornecimento de leite dado que as mães por qualquer razão teriam dificuldade na amamentação dos mesmos e finalmente dava-me uma alegria enorme poder acompanhar as crianças albinas fornecendo-lhes também protetores solares/chapéus e óculos de sol. 

Claro que a relação entre as meninas internas e os voluntários só pode ser única e especial porque no fundo nós deixamos a nossa casa por elas, elas passam a ser a nossa única família num lugar que é tão distante fisicamente. E por isso mesmo, penso que elas me vão lembrar sempre pelo mano maluco que preferia dançar com elas em vez de estudarmos juntos, pelo mano que gosta de saber se existem ou não namorados, pelo mano que gosta de distraí-las durante as tarefas delas, pelo mano que apesar de “mais velho” consegue ser da idade delas, pelo mano que está lá para tudo...

Quando chegamos a Inharrime a primeira coisa que nos perguntamos é: “Então e agora qual o meu papel? Qual a minha missão?”. A Irmã Lucília precisamente no primeiro dia diz-me: “O fazer é muito importante mas mais importante que isso é o estar”. E assim, depois de ter estado em “pleno estar”, saio de Inharrime com o coração a transbordar na certeza que esta despedida não se trata de um adeus mas sim de um até já.

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