Sou o Francisco Delgado e sou recém-formado em Engenharia e Gestão Industrial. Depois de cinco anos a estudar no Técnico pensei que seria importante não iniciar de imediato a vida profissional e a possibilidade de fazer uma experiência de voluntariado internacional fez sentido nesse momento da minha vida. O meu objetivo era também poder contribuir com o meu trabalho e ajudar uma organização. O Centro Laura Vicuña surgiu de imediato como uma das possibilidades, pois a minha família já apadrinhava uma criança deste centro há vários anos. Foram 5 meses muito felizes, uma experiência muito significativa que teve e terá um forte impacto positivo na minha vida. Este lugar tem um encanto especial, em parte por causa das 120 meninas que aqui vivem e por outro lado por causa das irmãs que cuidam delas e deste espaço com tanto carinho e preocupação.
Durante estes meses fui-me apercebendo da importância do Centro Laura Vicuña para as meninas que aqui vivem, para os trabalhadores que aqui trabalham e para os estudantes que aqui estudam mas também para toda a comunidade de Inharrime e mesmo um exemplo para Moçambique.
Neste centro vivem 120 meninas, cerca de 70 internas e 50 semi-internas. As meninas são a alegria da casa. Vivi com elas experiências de relação humana, inesquecíveis. Cada uma delas, os seus nomes, as suas histórias de vida e os seus sorrisos são únicos e especiais e foi para mim uma felicidade conhecê-las. Com elas há sempre trabalho a fazer. Em primeiro lugar a ajudar nos estudos garantindo todo o apoio para o sucesso escolar. Durante este tempo tive a oportunidade de ser por várias vezes o encarregado de educação de várias delas e foi para mim uma enorme alegria descobrir que as meninas eram sempre as melhores alunas da turma e que mesmo as meninas com mais dificuldades apresentavam um comportamento exemplar, sem nenhuma queixa dos professores. Na entrega dos prémios de melhores alunos da escola, aos encarregados de educação, tive até que o ir receber por quatro diferentes vezes. Para além desta ajuda muito importante para a vida destas meninas, o meu trabalho de voluntariado também passou por brincar, cantar, dançar e conviver com elas. Esta é uma parte muito importante na vida de qualquer criança e estas não são exceção.
Como referi, este centro tem um programa de apadrinhamento que ajuda mais de 500 crianças e é de extrema importância para a comunidade de Inharrime. Este programa de apadrinhamento garante comida, sabão, material escolar e roupa a crianças cujas famílias têm poucas ou nenhumas condições para sustentar as mesmas. Tive a oportunidade de poder ajudar neste programa. Tirei fotografias a centenas de crianças (fotografias para os padrinhos poderem acompanhar o crescimento das mesmas), ajudei na distribuição dos bens às famílias das respetivas crianças e também inscrevi novos padrinhos neste programa e atribui-lhes crianças ainda sem padrinhos e por isso sem apoio. Apercebi-me da importância, da complexidade e da grandeza deste programa que não dá só bens materiais às crianças mas que permite que sejam felizes.
Este centro pretende ser autossustentável na medida do possível e para isso foi criada a Padaria, que produz e vende pão. Por vezes, ajudei no trabalho da venda do pão em Inharrime. Trabalho importante, pois a sua venda possibilita parte do sustento das crianças e fornece o pão, como bem essencial, à comunidade. À volta desta produção criam-se pequenos negócios, postos de trabalho, que revendem o pão, e são assim uma fonte de rendimento para várias pessoas da comunidade. Também é importante para certas regiões mais remotas, pois é o único pão que aí chega, por isso a sua importância para as famílias que aí vivem. A ajuda na venda do pão permitiu-me conhecer a tão bonita vila de Inharrime, onde este centro se localiza e o seu povo tão humilde e amigável.
Fiz muitas outras coisas que iam surgindo e conheci muitas pessoas que me marcaram. Os trabalhadores do centro como o Filipe, o Ernesto e o Raimundo, que me impressionaram pelo seu sentido de responsabilidade, lealdade e capacidade de trabalho. As irmãs que conviveram comigo (as irmãs Agnesse, Albertina, Amélia, Claudina, Inácia, Sandra e Verdeana) durante todo este tempo, foram a minha família e garantiram sempre que nunca me faltava nada e de facto nunca faltou, antes pelo contrário. Por fim a Ir Lucília, a pessoa responsável por este centro, desde a sua criação há 10 anos atrás. A sua capacidade de gestão e de trabalho, que parece muitas vezes ultrapassar as possibilidades humanas, aliadas à capacidade de educar estas crianças através do amor, deixou uma marca em mim. O seu exemplo irá acompanhar-me toda a vida.
Posso dizer que foi uma experiência muito profunda e que de certa forma mudou a perspetiva da minha vida. Não hesitem se estiverem a pensar nesta possibilidade.